A partir do momento em que um educador se dispõe a analisar as suas posturas pedagógicas, inicia-se um processo de crescimento individual, originado em algum momento de sua atuação como educador ao se deparar com a complexidade do processo educativo, pois por mais ampla que seja a sua formação ela precisará estar constantemente sendo aperfeiçoada, para atender tanto os aspectos formais quanto os relacionais da construção do conhecimento.
A maioria das nossas dificuldades profissionais tem sua origem nas atitudes que dispensamos aos problemas do nosso cotidiano, que por sua vez são conseqüências de uma determinada visão de mundo, distintos em cada pessoa. Nesse sentido todas as nossas interações enquanto seres vivos se desenvolvem de acordo com o nosso script, uma espécie de programa constituído por crenças e concepções que sustentam nossas verdades.
Partindo desta visão, é importante que as interações e os projetos que nos propormos a desenvolver, estejam embasados em uma visão de abertura a conhecimentos divergentes, que irão nos habilitar a romper com essa espécie de determinismo, que coloca fora do nosso alcance qualquer alteração que não estivesse previamente programada. Esse olhar mais amplo torna as nossas construções provisórias, ao mesmo tempo em que nos compromete com as transformações que desejamos.
Em meio a esta enorme diversidade de pensamentos individuais cada um advoga conforme seus valores e capacidades, elementos que de certa forma constituem-nos individualmente. Surgem então alguns questionamentos a respeito de nós mesmos. O que nos leva a investir em cursos de aperfeiçoamento? Que tipo de professor eu sou? Quais as competências indispensáveis ao professor? Quais os desafios que a caminhada me proporcionou enfrentar?
É importante destacarmos, que o aluno admira o professor(a) que de uma ou outra forma transcende a formalidade dos conteúdos de sua disciplina, portanto o professor que fala a linguagem do aluno possui mais condições de criar espaços de interação com a turma, logo, demonstrar interesse pelas coisas de seu cotidiano é um sinal de abertura que em muito contribui para criar vínculos e se aproximar dos alunos. É importante deixar claro que isso não significa ausência de comprometimento e licenciosidade, mas um entendimento de que ao discutir temas comuns que motivam os estudantes, o professor demonstra não desconhecer as suas realidades, e assim ganha confiança e estabelece cumplicidade com a turma e juntos constroem importantes espaços de diálogos.
Essa abertura por parte do professor demonstra que antes dos conteúdos existem pessoas, e que ao conhecer seus alunos o próprio professor também se reconhece como educador. Muitas vezes a temática das discussões iniciais propostas pelos alunos, em um momento inicial fogem completamente da aula que o professor havia programado, pela mesma razão, alunos que nunca se manifestam na sala de aula perdem o medo e passam a participar. Esse aparente desvio programático na verdade foi o que permitiu o surgimento da diversidade, criando condições para que posturas pedagógicas que não foram previamente programadas dessem tranquilidade para a participação dos alunos, permitindo o conhecimento mútuo dos envolvidos, sendo que posteriormente após a criação destes vínculos a formalidade disciplinar possa ser introduzida com naturalidade.
Dominar os temas da discussão de interesse dos alunos, e mostrar que considera importantes as suas questões, significa estar conectado com seus sentimentos, e só aqueles educadores que transcendem os limites da sua disciplina, conseguem fazer as suas aulas interessantes e motivadoras. Professores que foram incentivados a trabalhar com pesquisa e produção própria fazem da sua prática pedagógica momentos de formação, pois ao valorizar a heterogeneidade e a diversidade de contextos, o educador(a) percebe que a proximidade com o aluno, facilita a identificação de suas potencialidades, pois quanto maior o conhecimento mútuo maiores são as chances de intervenção.
Vale lembrar que as qualidades formais dos nossos saberes dizem respeito à racionalidade dos conteúdos, ao valor científico de cada disciplina específica bem como os conhecimentos inovadores que desenvolvemos. A qualidade política está ligada à ética e aos valores das pessoas, para exercerem a sua cidadania. Acrescentamos neste aspecto a importância que o lado emocional desempenha na construção desses valores que irão tornar as pessoas mais humanas. Nesse sentido consideramos ser fundamental que o professor desenvolva estas qualidades de maneira equilibrada, o que dará coerência a sua prática pedagógica contribuindo com a construção de pessoas críticas e abertas aos saberes dos outros.
Professor Luiz Flavio Rangel
Diretor da Escola